CAPITALISMO E POBREZA

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*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

O capitalismo quanto mais cresce mais concentra, mas seria o melhor de todos os regimes à exceção dos demais, como dizia Sir Winston Churchill.

O economista francês Thomas Piketty, que ficou famoso ao escrever o livro “O capital do século XXI” (comprei, ainda na tradução à língua falada em Portugal, na vetusta Livraria Bertrand, em 2014, em Lisboa), anda preocupado e diz ter chegado a hora de distribuir a riqueza. Está no seu novo livro “Capital e Ideologia”, provavelmente já lançado, no exterior.

Piketty parte do pressuposto de que “… a desigualdade é uma escolha política (jornal Valor, dia 27/09/2019). É algo pelo qual as sociedades optam, e não um resultado inevitável da tecnologia e da globalização, e enquanto Karl Marx via a história como uma luta de classes, ele a vê como uma batalha de ideologias.” E mais, diz ele: “Todas as sociedades desiguais criam uma ideologia para justificar a desigualdade e isso permite aos ricos dormir tranquilos em suas casas, enquanto os sem-teto congelam do lado de fora.”

É provável que essa tese empolgue os representes da esquerda, nos Estados Unidos, nas próximas eleições presidenciais, no momento em que aqueles da direita estão predominando em diversas outras economias do mundo.

Não foi sem propósito que o tema da pobreza foi contemplado com o prêmio Nobel de Economia, em 2019 (jornal Valor, de 15/10/2019), concedido a três economistas que vivem nos Estados Unidos: Abhijit Baherjee, EstherDufio, ambos professores do MIT, e Michael Kremer, de Harvard, que desenvolveram, a partir dos anos 90, “experimentos de políticas específicas para melhorar resultados educacionais e de saúde, além de analisar outros problemas associados à vida dos mais pobres.”

Esses economistas vinham estudando as questões da pobreza desde o século XIX, para tentar diferenciar pelos ‘traços de caráter’ os muito pobres do todo social. Esther e Baherjee, que são casados, escreveram o livro “A economia dos pobres: repensar de modo radical a maneira de combater a pobreza mundial;” ela afirma que “as técnicas aplicadas à pobreza extrema nos países em desenvolvimento podem ser aplicadas à pessoas de países ricos que também têm vidas difíceis.”

“Os economistas ficaram animados com esse prêmio” dado aos três professores, disse Martin Sandibu, do Financial Times, na mesma edição acima citada do jornal Valor, e os brasileiros destacaram a verdadeira revolução tecnológica da pesquisa premiada.

Aqui, em São Luís, o professor João Gonsalo de Moura, da UFMA, que foi meu colega de Departamento de Economia, também tem se dedicado ao tema; seu artigo mais recente “Políticas de combate à pobreza” foi publicado no dia 15/03/2020, no ‘O Imparcial’.

O desenvolvimento econômico é de fato condição indispensável no combate à pobreza, mas o crescimento tem de ser sustentável, para gerar produção competitiva, emprego e renda, e nada de políticas distributivas assistenciais permanentes.

Atualmente, no Brasil, para minorar as necessidades dos mais pobres e na ausência de condições estruturais de trabalho – hoje, temos cerca de mais de 12 milhões de desempregados -, o ‘Bolsa-Família’, o ‘Minha casa minha vida’ e outros benefícios (o economista Eduardo Suplicy, que foi meu professor de Teoria econômica, na FGV-SP, há muito defende a implantação da ‘Renda mínima’) são indispensáveis, contudo deveria haver uma ‘porta-de-saída’. Como fazer?

O País está já vinha operando em condições deficitárias, agravadas com a chegada do Covid-19. As despesas de custeio e obrigatórias consomem a maior parte do orçamento federal – também dos Estados e Municípios -, e assim, como fazer os investimentos de que precisamos principalmente em infraestrutura, doravante liberados de algumas limitações da Lei de Responsabilidade Fiscal?

À crise entre os Estados Unidos e China acrescente-se a pandemia do coronavírus agravando o quadro dessa escassez de recursos; o governo está flexionando essa rigidez orçamentária, a exemplo do que também está fazendo o Federal Reserve – FED, nos Estados Unidos, remanejando recursos de modo a melhorar a liquidez da economia, recorrendo a créditos orçamentários especiais, indo em auxílio às empresas e antecipando benefícios previdenciários aos aposentados e pensionistas do INSS.

O economista André Lara Resende – ALR tem a saída: ele entende que “o governo que emite sua moeda não deve sofrer restrições”, quer dizer: pode emitir moeda e endividar-se aos investimentos desde que em projetos livres de risco, que sejam prioritários e tenham retornos assegurados. Seria o caso brasileiro?

A propósito, recomendo a leitura do seu livro mais recente “Consenso e Contrassenso” (editora Portfolio/Penguim), bem como da entrevista à revista ‘Eu & Fim de semana’, encarte do jornal Valor, do dia 07/02/2020, “As armadilhas do dogmatismo”.

*Economista. Membro Honorário da ACL e da ALL. Filiado à IWA e ao Movimento ELOS Literários.

Novo representante do CORECON é enpossado no COPIN-FIEMA

Novo representante do CORECON é enpossado no COPIN-FIEMA

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Aconteceu na tarde desta segunda (17), a Reunião do Conselho Temático de Política Industrial, Desenvolvimento e Inovação tecnológica – COPIN do Sistema Fiema em São Luís. Em pauta, foram discutidos temas como a importância da agência de inovação e pesquisa da UFMA bem como a legislação vigente no art. 30 da Lei 11.184/19. Na ocasião, o conselheiro José Aderaldo tomou posse como novo representante do CORECON-MA no COPIN.

Frednan Santos é eleito o novo presidente do Conselho dos Economistas do Maranhão

Frednan Santos é eleito o novo presidente do Conselho dos Economistas do Maranhão

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Na noite desta terça-feira,7, durante a primeira reunião plenária do ano, o Conselho Regional de Economia da 15ª região (Corecon/Maranhão) elegeu sua nova diretoria para o exercício 2020 e deu posse aos novos conselheiros para o triênio 2020 – 2022.

O economista Frednan Santos foi eleito o novo presidente da instituição. Na vice-presidência, assumirá o economista João Carlos Souza Marques. Essa é a terceira vez que Frednan Santos assume a presidência do órgão – ele foi eleito pela primeira vez em 2017 e reeleito em 2018.

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O ex-presidente Luiz Espíndola, ao lado dos economistas Frednan Santos e João Carlos Marques, eleitos, respectivamente, presidente e vice-presidente do Corecon/MA

Durante a reunião também foram nomeados os membros da Comissão de Tomada de Contas e Licitação para o exercício 2020, bem como ficou agendada a primeira reunião de planejamento estratégico do ano.

Despedida

O ato marcou a despedida do economista Luiz Augusto Espíndola da presidência do Conselho. Espíndola apresentou um breve resumo das ações exitosas desenvolvidas pela entidade em 2019, como a Semana do Economista 2019, o Prêmio Maranhão de Economia e o projeto Conversa de Economista, que em 2019 contou com debatedores de peso, como o presidente da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), Ted Lago, e o diretor de Relações Institucionais da Equatorial Energia, José Jorge Leite Soares.

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Ted Lago fala sobre o Porto do Itaqui como vetor de desenvolvimento para o Maranhão durante palestra do projeto Conversa de Economista

Veja como ficou a composição do plenário com a posse dos novos conselheiros:

COMPOSIÇÃO DO PLENÁRIO

Terceiro Terço (Mandato: 2018-2020)

Conselheiros Efetivos:

José Lúcio Alves Silveira, José Tavares Bezerra Júnior, Luiz Augusto Lopes Espíndola e Luiz Fernandes Lopes.

Suplentes:

Fernando Reis Babilônia e Raquel Susana Lobato Muniz.

Primeiro Terço (Mandato: 2019-2021)

Conselheiros Efetivos:

Carlos Eduardo Nascimento Campos, André Fernandes Rocha Serra, Felipe Macedo de Holanda e Marcello Apolônio Duailibe Barros.

Suplentes:

Daniel Roosevelt Oliveira Sá, Erivam de Jesus Rabelo Pinto Júnior e Joçara Felipe de Paula.

Segundo Terço (Mandato: 2020-2022)

Conselheiros Efetivos:

Andre Luiz Lustosa de Oliveira, Frednan Bezerra dos Santos, Heloizo Jeronimo Leite e João Carlos Souza Marques.

Suplentes:

Francisco Pereira Mascarenhas Junior, José Aderaldo do Nascimento Neto e Rodrigo Leite Cruz.

Conheça o perfil dos novos diretores:

Presidente

Frednan Bezerra dos Santos é Economista, Mestre em Desenvolvimento Socioeconômico pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Foi professor substituto do Departamento de Economia da UFMA e Presidente do Conselho Regional de Economia da 15ª Região – CORECON/MA nos anos de 2017 e 2018. Atualmente é pesquisador e assessor especial na Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular – SEDIHPOP-MA.

Vice-presidente

João Carlos Souza Marques é economista, Mestrando em Desenvolvimento Socioeconômico pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Conselheiro do CORECON desde o ano de 2018. Atualmente é Superintendente de Assuntos Fiscais na Secretaria de Estado de Planejamento e Orçamento do Maranhão – SEPLAN-MA.

Nota do Cofecon – “Crescer para quem? Mais crescimento com inclusão social”

Nota do Cofecon – “Crescer para quem? Mais crescimento com inclusão social”

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Após a pior recessão de nossa história, desde 2017 a economia brasileira voltou a crescer, mas a taxas pífias, que se repetirão no corrente ano. A confiança na economia em geral tem influência nas decisões de produção e investimento, mas cada empresário e investidor priorizará as condições e perspectivas de seus próprios negócios.

Esse ritmo de crescimento desalentador poderá, em algum momento, melhorar, embora, com o atual modelo de política econômica, não alcançará taxas como a média anual de 3,7% da primeira década do século XXI. Não obtante o peso das políticas adotadas pelo governo, o sistema econômico possui mecanismos para fomentar o aumento da atividade – pessoas e empresas vão reduzindo seu endividamento; bens de consumo duráveis, de capital e imóveis vão se depreciando; recursos produtivos, como aluguéis, máquinas, equipamentos e mão-de-obra vão baixando de preço.

Tão importante quanto crescer a produção é como ela será distribuída. Não existem razões nem evidências para apoiar a estratégia de crescer o bolo para depois distribuí-lo. É essencial avaliar quem ganha e quem perde com cada política pública – tetos de gastos, restringindo investimentos públicos em áreas sociais, como saúde e educação; desregulamentação da terceirização, piorando as condições dos trabalhadores, sobretudo por retirar responsabilidades das contratantes desse tipo se serviço; reforma da previdência, adiando e reduzindo benefícios do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), que abrange a grande maioria dos indivíduos de mais baixa renda; carteira de trabalho verde e amarela, retirando vários direitos.

A concentração da renda no Brasil persiste entre as mais altas do mundo. O Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, divulgado em 09/12/2019, mostra o país como o segundo nessa concentração, considerando a parcela dos 1% mais ricos, com 28,3%, abaixo apenas do Catar, com 29%, país com apenas 2,7 milhões de habitantes. Confirmando essas disparidades no Brasil, dados da PNAD Contínua, do IBGE, revelam os 10% mais ricos com 41,9% da renda total, enquanto os 10% mais pobres com irrisórios 0,8%.

Assim, é inaceitável crescer concentrando renda, mas essa é a perspectiva com a atual política econômica e suas reformas. Contudo, uma reforma tributária será excelente oportunidade de caminhar para um sistema progressivo, compensando parte da concentração promovida não só pelo mercado, mas por mecanismos como a captura de renda (rent seeking) obtidos na arena política.

Conselho Federal de Economia

“Sem jeitinho”?, por Lino Raposo Moreira*

“Sem jeitinho”?, por Lino Raposo Moreira*

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Artigo originalmente publicado no jornal O Estado do Maranhão

Corre no Senado Federal Projeto de Lei – PL do senador Lasier Martins, de alteração do Código de Processo Penal – CPP do Brasil, com o fim de permitir o início do cumprimento da pena, logo após a condenação de réus em segunda instância. Legislação como essa exige na Casa onde tramita um quórum menor do que aquele necessário à aprovação de um Projeto de Emenda Constitucional – PEC. Um PL como o proposto, portanto, comparado com uma PEC, é de fácil aprovação. Na Câmara dos Deputados, há outra proposição, com o objetivo de alcançar o mesmo fim, mas por meio de uma PEC. Vejamos.

O artigo quinto da Constituição diz no inciso LVII: ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. A expressão “trânsito em julgado”? é utilizada no direito brasileiro para indicar o fim da possibilidade de qualquer recurso contra decisão judicial.

A maioria do Senado vê uma simples alteração no CPP com tendo o poder de tornar letra morta o artigo mencionado acima. O truque proposto está na redefinição do momento da ocorrência do trânsito em julgado, antecipando o para a ocasião da imposição da sentença condenatória em segunda instância. Esta passaria ser considerada como final, com o consequente encerramento do processo. Recursos extraordinários ou especiais continuariam a ser feitos ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal em processos separados, devendo o condenado iniciar o cumprimento da pena imediatamente.

Tudo isso é um círculo vicioso e, portanto, uma volta ao marco inicial da pretendida mudança, exatamente porque os recursos continuariam a existir, situação característica da não existência de trânsito em julgado, contrariando a Constituição. O truque não funciona e será derrubado, quando a primeira ADIN aportar no STF.

Não estou fazendo juízo de valor. Não digo que deveríamos adotar ou não o início do cumprimento imediato da sentença após condenação em segunda instância. Há muitos países democráticos que desse modo procedem. Porém, a história deles é diferente da nossa. Mesmo assim, nada nos impediria de seguir o procedimento deles. Se me perguntassem, eu diria sim, prefiro ter o cumprimento imediato, mas não com o atropelo da Constituição. Ela foi elaborada no final de uma ditadura e, naquele momento, havia a preocupação de preservar os direitos individuais. Por isso, o possível excesso na proteção deles.

Restaria a PEC da Câmara, como mecanismo de mudança. Esbarramos aqui, entretanto, em dificuldade insuperável, pois o artigo 60 da Constituição impõe, no item III, parágrafo quarto, que não será objeto de deliberação proposta de emenda tendente a abolir “os direitos e garantias individuais”?. Estes já são assegurados pela Constituição. No entanto, são também o objeto da PEC que pretende aboli-los em parte. Não há como contornar a contradição, dar um jeitinho.

Qual a saída? Preservar a Constituição. Mudanças nos próprios recursos, em termos do número deles e agilidade em sua tramitação, podem ser feitas. O Conselho Nacional de Justiça já deu informações acerca do tempo médio de tramitação deles, avaliando-o em 12 meses. Engana-se quem culpa as instâncias superiores pela demora na tramitação. O problema está mesmo lá na primeira.

Suspeito que a intenção do Congresso seja jogar sobre o Supremo a responsabilidade de barrar uma mudança com amplo apoio nas multidões ululantes da internet, mas inconstitucional.

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Lino Raposo Moreira é economista e membro da Academia Maranhense de Letras

“A revanche”, por Antônio Augusto Ribeiro Brandão

“A revanche”, por Antônio Augusto Ribeiro Brandão

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Há circunstâncias acontecidas nas lutas pelos direitos humanos que o tempo gravou e tenta, sempre, cobrar. Pelo muito que sofreram nessas lutas em prol de afirmação social minorias vivem numa desordem e ausência de regras.

Vejamos antecedentes registrados pela história e disponibilizados na Internet:

“[…] pessoas de cor foram marginalizadas pela sociedade da época e isso refletiu negativamente para a realidade que temos hoje; fazemos parte de uma sociedade de preconceitos que foram estabelecidos ao longo da nossa história; a falta de visão dos nossos governantes daria brecha a muitas discriminações e desigualdades, sentidas até hoje; o trabalho de mulheres e crianças nas fábricas inglesas, no auge da Revolução Industrial, pode ser considerado escravismo; essas crianças crescem sem ter os valores que cabia à mãe ensinar e sem esses valores tornam-se adolescentes problemáticos, adultos infratores, imaturos; tudo isso é consequência da modernidade, tudo em nome dos direitos iguais; agora toda uma geração sofre as consequências […]”?.

Dizem que, em tempos distantes, cidades foram literalmente destruídas quando o grau de devassidão e libertinagem então praticado atingiu o máximo. Um fato que não acontecia há mais de quatrocentos anos, pressionado pelas forças ocultas de sempre e bem próximas a ele, além de denúncias várias de corrupção, vazamento de informações e pedofilia no âmbito da Igreja, um Papa renunciou.

Esses acontecimentos sem dúvida foram sinais de que, desde os tempos remotos até os dias atuais, houve regras do que é considerado certo ou errado; dos usos e costumes exercidos de acordo com padrões de comportamento geralmente aceitos; dos valores e crenças praticados e devidamente respeitados.

O que está acontecendo para que, num movimento crescente, essas regras estejam sendo desrespeitadas? Penso, de forma benevolente e pragmática, que podemos estar diante da velha ”˜luta de classes”™ nunca sepultada, mas sempre renascida. Nada de sentimentos restritivos à liberdade e igualdade como alegados por quem tenta defender os ”˜avanços”™ sociais havidos.

Duas questões concretas e históricas, a meu ver, estão por trás de tudo: o regime escravista, que existiu inclusive entre nós por questões econômicas circunstanciais e demorou muito até ser abolido; e a emancipação feminina, fruto inexorável do desenvolvimento mundial e dos próprios direitos da mulher.

Tudo isso deixou sequelas e ressentimentos, que estão postos quase num clima belicoso. Minorias usualmente tratadas de forma marginal e sem condições de evoluir por esforço próprio, conquistando direitos e educação, de uma hora para outra e de uma forma mínima e filantrópica impulsionada pelos governos, e ainda subsidiadas pelo crédito fácil, passam a consumir e, ao mesmo tempo e sem base nenhuma, praticar atos de violência e selvageria.

Logo surgem as transgressões das regras estabelecidas pela própria sociedade em que vivem: usos e costumes, valores e crenças definitivamente alicerçados passam a ser agredidos da forma mais aberta possível, como se os fins justificassem os meios.

A Igreja e a Família estão sendo duramente atingidas. São os últimos redutos a serem transpostos antes que possam vingar essas condições extremas que muitos desejam estabelecer.

Faço um exame de consciência: professor universitário que fui durante longos trinta anos, ensinando e procurando educar, como fazia com meus filhos e faço com meus netos, fico pensando nas sementes que ajudei a plantar.

Infelizmente, tudo mudou. As nobres tarefas de ensinar, educar, e de viver em sociedade ficaram mais difíceis; os resultados estão aí a desafiar a ordem constituída e, enquanto isso, a criminalidade avança e a insegurança aumenta.

Seria uma revanche? O diretor Quentim Tarantino, no filme “Django Livre”?, reserva a um figurante, eleito seu herói, “um glorioso acerto de contas”?

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*Antônio Augusto Ribeiro Brandão é economista e professor aposentado da UFMA

“Fepa: mesmo atabalhoada, a reforma começou”, por Eden Júnior*

“Fepa: mesmo atabalhoada, a reforma começou”, por Eden Júnior*

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Artigo originalmente publicado no blog Atual 7

Mediante o envio, no último dia 19, pelo governador Flávio Dino para Assembleia Legislativa, do Projeto de Lei Complementar n° 14/2019, foi iniciada a Reforma da Previdência dos Servidores – o Fepa. Numa velocidade espantosa – não para os padrões da “Nova República do Maranhão”?, claro – dois dias depois, com pouca discussão, sem muitas explicações e numa votação acachapante (28 votos favoráveis e dois contrários) os deputados aprovaram a reforma.

Como exemplo, a Reforma da Previdência na União – obviamente mais complexa que a nossa – promovida pelo presidente Jair Bolsonaro, tido por muitos como “autoritário”?, levou oito meses para ser debatida e aprovada. Na mensagem n° 149/2019, que encaminhou o projeto de reforma do Fepa, não há uma única referência de quanto a mudança traria de economia para os cofres estaduais. Situação oposta à mensagem n° 55/2019, que apresentou a Reforma Federal, onde pululavam números e projeções: o déficit agregado da Previdência Nacional em 2017 foi de R$ 362 bilhões; a despesa com benefícios do INSS foi de 4,6% do PIB do país em 1995 e atingirá 16,8% do PIB em 2060; a reforma traria uma redução de despesas previdenciárias de R$ 1,072 trilhão em 10 anos, e de R$ 4,497 trilhões em 20 anos;

As modificações mais significativas produzidas pela reforma estadual foram a criação do Comitê de Adequação do Regime Próprio de Previdência Social – que deve propor medidas para adequar as normas do Fepa às da Reforma Federal – e a instituição de novas alíquotas previdenciária. Os servidores irão contribuir entre 7,5% e 22% da remuneração, conforme a faixa salarial, e o Estado entre 15% e 44%, de acordo com o salário-contribuição do funcionário.

Muito se pergunta da necessidade da majoração da contribuição previdenciária no Maranhão. De fato, com a aprovação da reformulação previdenciária Federal, pela Emenda Constitucional n° 12/2019, por força dos artigos 9°, 11 e 36 dessa, o Estado tem que adotar novas alíquotas. Isso se deve, especificamente, porque a Previdência estadual está em situação de “déficit atuarial”?. Ou seja, segundo cálculos, as receitas a receber serão insuficientes para cobrir as despesas com aposentadorias e pensões dos atuais filiados do Fepa. O Demonstrativo de Avaliação Atuarial da Previdência estadual, referente a 2018, informa que o “déficit atuarial”? ficou em cerca de R$ 30 bilhões. Grosso modo, se hoje o Fepa quisesse encerrar suas atividades, projetasse o que tem de receitas a receber e de benefícios a pagar, para os mais de 110 mil filiados, levando em consideração a expectativa de vida desses, ainda faltariam R$ 30 bilhões para cobrir o rombo. Montante mais de uma vez e meia maior que o orçamento do Estado para 2020 e equivalente a 1/3 do nosso PIB.

Contudo, a Portaria n° 1.348/2019 da Secretaria de Previdência do Ministério da Economia, publicada na semana passada, disciplinou os parâmetros e prazos para atendimento, por estados e municípios, das inovações trazidas pela Reforma Federal. Desse regulamento, destaca-se que: (i) estados e municípios poderão esperar até 31 de julho de 2020 para adotar novas alíquotas previdenciária; (ii) não há necessidade de aplicar alíquotas progressivas, mas sim o patamar mínimo e uniforme de 14%; e (iii) as novas alíquotas deverão estar embasadas em avaliação que demonstre que irão contribuir para o equilíbrio financeiro e atuarial do regime – no caso, o Fepa. Ou seja, tudo ao contrário do que foi feito no Maranhão.

Em realidade, essa majoração de alíquotas só se tornou imprescindível porque em períodos passados o governo do Estado – especialmente -, os deputados e os próprios servidores relutaram em reconhecer a situação de falência do Fepa, e evitaram tomar ações corretivas. Até 2014, o fundo era superavitário em cerca de R$ 300 milhões, mas a partir de 2015 passou a apresentar saldo negativo de R$ 90 milhões, que subiu para R$ 1,1 bilhão em 2018. Somente de janeiro a agosto deste ano, o déficit ficou em R$ 659,9 milhões.

No mais recente lance para suavizar o impasse da Previdência estadual, o governo, mesmo contra concepções históricas do PCdoB, fez aprovar a privatização da GASMAR, a estatal de gás canalizado. Os recursos – que novamente não foram explicitados – oriundos dessa venda deverão socorrer o Fepa.

Longe de comportamentos demagogos, sem culpar o Governo Federal por responsabilidades que são suas e a despeito de antipatia eleitoral, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul encaminham reformulações amplas de seus sistemas previdenciários, que podem resolver a questão dos déficits por um período mais longo. Inclusive, em postura altiva e incomum, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, abriu mão de disputar a reeleição, em troca da aprovação, pela Assembleia gaúcha, de mudanças na Previdência estadual e de outras regras de contenção fiscal.

Agora é acompanhar o andamento da PEC Paralela da Previdência, que já foi aprovada no Senado e está na Câmara, e que permite a adoção por estados e municípios de todas as normas previdenciárias da União, para assim saber se vamos implementar as medidas saneadoras ou se vamos ficar presos a retóricas populistas novamente.

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*Eden Jr é economista, mestre em Economia e doutorando em Administração

“Brigadistas”?, por Lino Raposo Moreira

“Brigadistas”?, por Lino Raposo Moreira

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Artigo originalmente publicado no jornal O Estado do Maranhão

O setor ambiental brasileiro continua a sofrer de males derivados não propriamente, da administração errática do governo federal. A incompetência administrativa existe, mas os problemas têm amplitude e raiz maiores do que se poderia pensar ao analisar somente as consequências imediatas das confusas ações governamentais nessa esfera.

Pode-se ver, quando se presta cuidadosa atenção, o antiambiental do presidente Bolsonaro bem como do ministro Ricardo Salles contra qualquer coisa com cheiro de preservação de florestas. Quem não se lembra da polêmica completamente sem sentido, com o presidente francês, Macron, a respeito do controle de incêndios e desmatamento na Amazônia? O resultado dessa bobagem foi a colocação do tratado de livre comércio entre o Mercosul e União Europeia, muito importante para o Brasil, em banho-maria, banho-josé, amélia, joão, etc. A verdade é esta, a fiscalização e o controle ambientais foram afrouxados no início do governo, não sendo de surpreender o salto nos danos às florestas tropicais brasileiras, observados por instituições idôneas e capacitadas à produção das informações pertinentes ao tema. Brotou desde então no Brasil um clima da guerra contra a discussão desses assuntos e das ações a eles relacionadas.

Chegamos, assim, ao ponto cimeiro, consequente ao clima de preconceito contra a preservação da floresta. Falo do caso de quatro membros de brigadas de combate a incêndios florestais, presos no Pará, sob a acusação de terem causado intencionalmente incêndios florestais em áreas rurais de Alter do Chão. A situação tensa na região, por obra de grileiros bem conhecidos, já fora denunciada ao governador do Estado, pelo prefeito de Alter. Ele disse, até, que os incêndios eram feitos por grileiros, com o fim de limpar os terrenos, cercá-los e, por fim, vendê-los, tudo com o apoio de policiais. Decorridas 24 horas dos incêndios, apareceram placas de “Vende-se”?, conforme emissora de televisão local mostrou. A justiça decretou a prisão dos brigadistas. O juiz a decretá-la já foi advogado, nos negócios de grilagem, de sua própria família de madeireiros.

Mas, uma vez mais, os culpados eram as vítimas. Não exagero na minha avaliação negativa do governo.

O presidente da República, além de dar suporte verbal à prisão dos quatro brigadistas, efetuada sem a apresentação, pela polícia civil do Pará, de qualquer prova da acusação contra eles, que são pessoas reputadas na comunidade local como de grande utilidade no combate aos incêndios, ainda os acusou, também sem prova nenhuma, além das geradas por sua mente paranoica, de receberem de Leonardo Di Caprio recursos financeiros destinados ao cometimento do suposto crime. De onde ele tirou tal maluquice, ninguém sabe, como já aconteceu antes. Vocês se lembram das acusações de manipulação de dados feitas contra o INPE? Acusações desse tipo nefasto são semelhantes àquelas feitas contra a “Folha de S. Paulo”?, o grupo Globo e quem mais da imprensa não for a favor do governo e criticá-lo. Onde estão as provas? Bem, as provas são as próprias críticas, parece ser o argumento bolsonarista.

Aliás, eu não deixarei de criticar os perigosos defeitos do governo atual, os mesmos dos períodos do PT, como esse de querer calar a imprensa. Os três, Lula, Dilma e Bolsonaro, são bem parecidos e têm concepções iguais e erradas sobre liberdade de imprensa. Também são brigadistas, pois vivem brigando com os fatos.

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Lino Raposo Moreira é economista e membro da Academia Maranhense de Letras

“Contextualizando fatos marcantes da história”?, por Antonio Augusto Ribeiro Brandão

“Contextualizando fatos marcantes da história”?, por Antonio Augusto Ribeiro Brandão

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Se quisermos entender bem a consequente conjuntura econômica vigente nos tempos atuais precisamos conhecer as causas básicas que foram determinantes de quase tudo, principalmente no caso das políticas públicas em economia monetária.

A Segunda Revolução Industrial (1850-1950) promoveu um elevado crescimento econômico, o aumento da renda, um desenvolvimento desordenado das populações nas cidades e o surgimento do socialismo.

A Primeira Grande Guerra (1914-1918) começou na Europa e envolveu Alemanha, França e Rússia; contribuíram para esse conflito a corrida armamentista e o imperialismo das grandes potências sobre territórios coloniais. O Tratado de Versalhes (1919), que consolidou a rendição da Alemanha (1918), impôs aos vencidos, sérias reparações desaguadas em recessão.

A Grande Depressão (1929), função da Primeira Guerra Mundial, levou ao ”˜crash”™ da Bolsa de Valores de Nova York; decorreram a queda na produção industrial, endividamento das empresas, desemprego em massa e falência de grandes bancos ”˜alavancados”™ em ações.

Os Estados Unidos, nessa época, eram presididos por Herbert Hoover (1874-1964), entre 1929 e 1933, e o Federal Reserve – FED, o banco central americano, por Eugene Meyer (1875-1959); eles pretenderam combater o ”˜crash”™ acreditando nas forças do próprio mercado, sem nenhum auxílio à liquidez.

Eleito Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), que governou entre 1933 e 1945, demitiu o então presidente do FED e adotou providências de controle da produção agrícola também investindo em infraestrutura, ferrovias, rodovias e portos.

Por ironia o ”˜New Deal”™, lançado depois por Roosevelt, desaguou na Segunda Guerra Mundial (1939-1945); decorrente dos fatos e das causas da Primeira, dos governos autoritários e militaristas, teve a participação dos Estados Unidos a partir do ataque à sua base em Pearl Harbor, no Japão, em 1941.

Meu interesse maior vem desde esses fatos históricos. Em 1980, atuando no sistema financeiro estadual e integrando uma comitiva de executivos brasileiros do setor, participei de um Seminário sobre mercado financeiro e de capitais, na Universidade de Nova York, visitando as Bolsas de Valores e de Mercadorias, grandes bancos, corretoras e distribuidoras de valores, para saber de perto as causas do ”˜crash”™ e 29 e os prognósticos dos especialistas.

Na Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, atual integrante da Universidade Cândido Mendes, onde me formei há 60 anos, estudei política monetária no livro do professor Eugênio Gudin (1886-1986), um não economista, mas filho de um, engenheiro, da escola liberal, presente na Conferência de Bretton Woods, em 1944, junto a John Maynard Keynes (1883-1946) e outros ilustres brasileiros como Roberto Campos (1917-2001) e Otávio Gouveia de Bulhões (1906-1990).

Desde que retornei ao Maranhão, em 1965, depois de 10 anos vivendo no Rio de Janeiro, protagonizei os seguintes fatos entre outros não menos importantes: professor da UEMA, desde 1968 até 1983, ensinando Teoria Econômica e, na UFMA, desde 1978 até 1997, ensinando Economia Monetária e Mercado de capitais.

Meu interesse pelas questões monetárias e fiscais estão nos meus livros, lançados no Brasil e no exterior, bem como demonstrado em um sem número de artigos, a partir de 2007; no dia 19 do corrente mês de novembro, na AMEI, lancei ‘Economia – Textos selecionados’, uma coletânea de artigos publicados na imprensa local e ainda pertinentes à crise das hipotecas, nos Estados Unidos e ainda repercutida em países da Europa.

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Antonio Augusto Ribeiro Brandão é economista e professor aposentado da UFMA

“PIB: Subiu ou caiu?”?, por Lino Raposo Moreira

“PIB: Subiu ou caiu?”?, por Lino Raposo Moreira

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Artigo originalmente publicado no jornal O Estado do Maranhão

O Maranhão caminha para ser o primeiro vencedor da Copa do Mundo de Ineditismo. Olhem só: 1) O Produto Interno Bruto do Estado – O Maranhão foi um dos poucos entre todos os Estados do Brasil a anunciar crescimento de PIB em 2017, apesar deste ter diminuído no nosso caso. Eu já falei sobre esses altos e baixos nas taxas de crescimento. Elas deixaram de queixo caído quase o mundo todo, mas vale a pena repetir os números. O PIB do Estado caiu acumuladamente, nos anos de 2015 e 2016, um pouco mais de 9%.

Dois anos para se esquecer, ou o governo fazer-se de esquecido, pois ao anunciar o resultado positivo de araque, de 5,1% do PIB, no ano de 2017, o governador do Estado fez que se esqueceu dos números dos dois anos anteriores. Fácil de ver-se a razão de o anúncio ter sido feito com a utilização desse truque. A recuperação de 2017, chegou a apenas pouco mais da metade da queda anterior, de 9%, no acumulado de dois anos, como mencionei acima. Ou seja, o PIB subiu em 2017, mas caiu duas vezes antes. A velha Europa não tardará a se curvar ante a criatividade e o ineditismo maranhenses!

2) Reforma no estilo The Flash – Pensem com calma.

O Congresso Nacional levou cerca de 10 meses, ou 85%, quase um ano inteiro, até aprovar a Reforma da Previdência federal. Não digo “o governo Bolsonaro aprovou”? porque não foi esse o caso. Quando o presidente resolveu meter o bedelho nas discussões foi com o fim de atrapalhar, como no caso das aposentadorias de policiais e profissões semelhantes, diminuindo a potência fiscal da Reforma. Mesmo na hipótese de querer ajudar, encontraria muitas dificuldades, pois em nome de uma tal nova política, nunca claramente definida, recusasse a articular no Congresso a aprovação de matérias de interesse de sua administração. Não quer articular nada.

Dá, então, o protagonismo, aos deputados e senadores, que fazem tudo como acham melhor, e manda os filhos atacarem o Congresso e as instituições. No entanto, ele foi capaz de articular, quando indicou o filho para embaixador do Brasil nos Estados Unidos, e quando queria derrubar o líder do seu, agora, ex-partido, na Câmara dos Deputados, prometendo cargos na estrutura partidária a vários deputados. A Reforma da Previdência aqui no Estado, por sua vez, foi feita, ou está sendo feita, de maneira diversa e inédita, a começar pela contribuição à Previdência. As galerias da Assembleia, quando da votação da proposta de aumento de suas alíquotas, foram fechadas aos servidores, mas não a todos.

Os magistrados, por exemplo, tiveram livre acesso ao local. O tal do Sinproessema – sindicato conhecido por ser um braço do PCdoB, partido do governador -, diz representar os servidores, mas, a exemplo de outros sindicados esquerdistas, não deu um pio sobre a proposta, não reclamou de nada, num processo marcado pelo autoritarismo e pela falta de diálogo. É isso, é assim que se deve defender os trabalhadores: calando-lhes a boca.

Mas, afinal qual o motivo de o governo do Estado querer reformar a Previdência, contradizendo a campanha sistemática que fez contra a mesma reforma aprovada no Congresso? Começando como um governo perdulário, característica dos governos esquerdistas, Flávio Dino deseja agora, consertar o desastre por ele gerado contra as finanças do Estado, em especial o FEPA, com seu déficit de 304 milhões de reais, sem ter de arcar com os ônus de ser o autor da calamidade. Não vai funcionar.

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Lino Raposo Moreira é economista e membro da Academia Maranhense de Letras